Computadores, Cartagena e conscientização regional


Existem muitos motivos bons motivos para justificar a introdução de informática na educação, desde os argumentos mais pragmáticos (preparar a próxima geração para as ferramentas que serão importantes no futuro) até os argumentos mais genéricos (disponibilizar aos jovens 'pulos cognitivos' na sua aprendizagem, que apenas as modernas estruturas não-lineares de computadores permitem). Mas acredito que descobri um novo motivo - conscientização regional.

O contexto dentro do qual isso ocorre é o seguinte. Estou lendo no momento o mais novo livro do físico austríaco Fritjof Capra, autor das conhecidas obras seminais O Tao da Física e O Ponto de Mutação.
Sua nova contribuição, The Web of Life (A Teia da Vida; New York: Anchor, 1990), argumenta convincentemente que a biologia está substituindo a física como a ciência principal para a compreensão do universo, do ambiente terrestre e dos assuntos do que dizem respeito aos seres humanos.
O estudo da biologia, diz Capra, leva ao pensamento sistêmico, a ver contextos dentro de contextos, a entender transformações de todos os tipos.

Em março de 1998, na reunião de cúpula das Américas, realizada no Chile, foram assinados acordos de cooperação hemisférica. Participei, nos dias 9 a 11 de julho de 1997, na linda cidade colonial de Cartagena, Colômbia, de uma reunião convocada para identificar atividades de informática educativa que estão sendo realizadas na América Latina, visando criar um elenco de propostas de novos projetos para março no Chile.

Ficou evidente que cada país presente andava sozinho estratégica e taticamente na sua implementação de informática educativa, e que não havia contatos significativos entre instituições educacionais de toda região. Isto é, não há conscientização da importância que a região continental em que vivemos tem; muito menos da nossa interdependência como povos que cada vez mais terão intercâmbios comerciais, culturais e educativos.

É de nosso interesse, tanto pessoal quanto coletivo, estreitar as relações entre os cidadãos, jovens ou não, da nossa região sul-americana, assim aumentando as chances de conseguir soberania econômica e social. Se hoje, nas escolas, os jovens aprendem os contextos dentro dos quais vivem, haverá menos chances de países mais fortes, de fora da região, virem a determinar o nosso futuro.

Por isso, acredito plenamente ser urgente a informática nas escolas, criar atividades acadêmicas de ciências, matemática, humanidades, valores humanos, artes e educação física através do uso da Internet, escolas brasileiras em parceria com escolas dos nossos países vizinhos, e estabelecer comunidade de cidadãos que se conhecem, se respeitam e que crescem juntos.

Se você tiver uma boa sugestão neste sentido, levante a voz agora.

Texto escrito em julho de 1998.

Frederic M. Litto é Coordenador Científico
da Escola do Futuro da USP
e Consultor Acadêmico do Instituto
de Tecnologia ORT de São Paulo
e-mail: frmlitto@usp.br